sexta-feira, 20 de junho de 2014

Desritmo



Eu preciso sangrar até a noite acabar.
Amanhecer e não levantar.
Afogar-me no lençol com as mágoas.
Encharcar-me de pesar.
Preciso lembrar e relembrar de tudo,
Como assistir um filme
E acordar no mundo das outras pessoas.
Fantasiar nada mais que a pura verdade:
Que ninguém nos pertence.
Que é preciso saber a hora certa...
Quando livre voar,
Quando preso se libertar.
O meio termo só para os mornos!

Eu preciso deixar a ferida exposta.
Recuperar todo sangue perdido.
Amargar o doce que ficou
E transforma-lo apenas
Em marca d’água na mente.
Eu preciso chorar em rios e em mares.
Quando a dor apertar,
Jogar-me em queda livre em lugares.
Cegando-me do ontem.
Despertar para o mundo de outras pessoas.
Realizar tudo mais que a pura vontade.
Que ninguém é feliz sozinho,
Que é preciso saber a hora certa:
Quando livre voar,
Quando preso se libertar.
O meio termo só para os mornos!

É preciso conter-me as circunstâncias
E propor-me novas vias.
É preciso driblar os instintos carnais,
Assim como as ofertas fáceis.
É preciso fazer-me a fortaleza que não sou
Para me desmanchar por inteiro.
E renascer consolidada.
E mais que antes,
A sabedoria não pode faltar-me.
Enxergar-me como protagonista no mundo.
Concretizar os sonhos guardados em pausa.
Que ninguém vive sem sonhos.
Que é preciso saber a hora certa:
Quando livre voar,
Quando preso se libertar.
O meio termo só para os mornos!

Renata Netto.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Sentido roto



Deixe-me voar até o seu corpo
Queimar em uma manhã de domingo
Como uma flor a desabrochar
Desde a madrugada até o amanhecer
Servindo-te lentamente
Com suco natural
E leite quente

Tome-me aos poucos
E sinta seus olhos
Nos meus
Veja-me como vejo
Quero tudo
E mais um pouco

Deixe-me tocar sua insanidade
Enlouquecer em uma noite qualquer
Como um surto de eletricidade
Tensor, resistências sem disjuntores.
Percorrendo-me intensamente
Pensamento latente
E curto-circuito

Cale-me aos beijos
Abrace meus lábios
Molhados
Escorre-me viril
Atingindo-me
Aos poucos


Renata Netto.