quarta-feira, 30 de abril de 2014

Silenciador

Consolar o choro como quem canta uma música triste
É enfeitar a dor na harmonia do sentido
Descobrindo lentamente os códigos de cada lágrima,
Reportados a momentos diferentes

A voz...
Firme sustenta o ego,
Suave traz a lembrança,
Trêmula ecoa a saudade,
Na letra dos dias vividos
Ou onde almeja chegar
a intimidade...

Cantar uma música triste como quem chora a vida
É derramar-se nua em um personagem,
Onde o ritmo vai regendo cada sentido do corpo,
Transbordando sensações distintas

A música...
Comove a pedra rígida,
Corrompe a postura latente,
Transporta para outrora,
Na ilusão dos dias falecidos
Ou onde tangível se torna
a imaginação...

Renata Netto


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Resposta de uma tarde

Não precisa vir, nem chegar.
Não precisa nem se incomodar.
Não, não demore e nem se apresse.
Não precisa pensar em ninguém.
Não fui ninguém agora...
Fui um nada em um poço de lágrimas...
Fui um nada em uma tigela de mágoas...
Não precisa ligar, nem mensagem mandar.
Não precisa arrepender-se, preocupar.
Não, não se culpe por não ir.
Não precisa mais agora...
Fui um nada em um jardim encantado de fadas...
Fui um nada em um baile de estrelas amarelas no céu...
Não precisa sentir...
Não precisa escutar...
Nem muito menos achar que pode
De alguma maneira mudar o que se perdeu.
Não encontrará nada em lugar algum que faça
Aquele instante mudar.
Não precisa chorar...
Não precisa...
Não por mim...
Tudo é nulo e se anula na provável tentativa de ser.
Veja a lua, grande e toda prateada, luzindo toda a noite, a madrugada...
De tamanha beleza, regendo as marés em toda a parte do mundo...
Tantas vezes nem nos lembramos dela...
Tantas vezes não paramos para percebê-la...
Nem por isso a lua deixa de enfeitar a escuridão do céu...
E nem os seres humanos são menos felizes por não observa-la tantas vezes...
O quanto algo ou alguém é especial: são apenas os nossos sentimentos,
Depositados e experimentados neles, muitas vezes imaginados...
Só existem para nós, apenas...
Então realmente não precisa lembrar que...

Nada fui para você.
Eu não preciso significar nada para você...
O que realmente preciso é significar para mim.
O tamanho das coisas que posso sozinha reger,
É o tamanho da pessoa que quero ser.
Preciso de mim em mim.

Renata Netto.


terça-feira, 22 de abril de 2014

Ponto de régua

Correm tantos fardos,
Tantos pesares...
E não era tempo
Não era cura, nem milagre...
Era apenas uma distração
Para a vida que não era para ser.
Para quê o encontro se só houve desencontro?
Não nasci para amar completamente...
Nasci para sofrer?

A ilusão crescia em meu peito assim como
A realidade que tentava esconder e
Batia, batia e batia...
E nada do meu corpo mover
Batia e batia, e mais batia...
E nada do meu corpo deixar-se vencer.
Eu não fui assim tão ruim comigo mesma?
Fui? Devo ter sido...

Não respeitei o meu querer
Dei asas para qualquer coisa que viesse
Deixe-me entre o encontro das paredes
No canto, na quina, na junção de lugar algum.

Não deixei ler o meu desejo
Dei pontos e nós no que eu sentia ser.
Vedei o meu espírito com a minha incerteza

Quando com medo calava com as mãos minha alma. 


Renata Netto.