quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O que fazer com o desejo ainda quente?
Guardado na mente e no corpo latente...
O que fazer com o sabor ainda presente?
De todas aquelas palavras envolventes...

Enquanto era só utopia
Ele era mais feliz
A realidade concreta
Só o fez mais triste

O que o peito queria
Era dizer e gritar
E a mente silenciar
Sem nada explicar

E o que impulsiona os teus dias agora, querida?
Se o que tu tinhas de saída era um último suspiro...
Se o que querias era tão vazio e raso?




E a tristeza foi boa, sim
Me ajudou a entender
Que a dor muitas vezes é uma escolha
A tristeza me ensinou
A dançar na lama,
Sujar os pés e ver sentido onde não há

Ela me contou
Que é preciso chorar
Porque as lágrimas
Saem para dar espaço
Para a alegria chegar

Contou que a dor
Faz crescer a coragem
E prova o valor
De acreditar na verdade
Que se é e se tem

Tudo o que perdi
Foi para dar espaço
A tudo o que era eu
Que estava apagado
Em algum lugar em mim



A chama posta no céu de tua boca
Era faísca solta ao relento
Se assim não a fosse, não duraria
Sequer o outono, inverno
Perene no peito doce cachoeira

O pouso suave dos lábios
Os dedos rasgando a pele
O peso latente dos versos 
Gritos gravados na mente

O corpo retorce consolos
As mãos alcançam desejos
Os olhos aguçam sonhos
Os  sabores dos desenhos

E o vazio acolhe o peito
Na sua estática imagem
Do alto de um penhasco
Esperando uma viagem




terça-feira, 25 de outubro de 2016

Não sei o que me abateu...
Se foi ressaca ou atropelo meu
Se fui adiantada ou me perdi no breu...

Sei que fui tantas vezes outra, não eu.
E nessas idas e vindas perdi o talento meu
A única chance de dizer sorrindo quem era eu


Renata Netto

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Veja bem...
A solta beleza do vento
Como pode levar sua força
Onde quer que vá
Ponderando entre brisa e vendavais

Veja bem...
De quantas palavras a lua se faz
Ora regendo mares, ora corações
Como a serena paz onde queremos estar
E com toda a leveza
Administrando o tempo com rigor

Veja bem...
O sol com sua imensa intensidade
Nunca chega e sai sem ser notado
O mesmo raio que consola pode agredir
E mesmo com sua força
Em tantos lugares não consegue incidir


Renata Netto



Era pouco e eu sabia
Que por mais que quisesse
Não seria

Era trágico e imaturo
Que por mais que investisse
Não vingaria

Era raso e tão baixo
Que por mais que descesse
Não afundaria

Era claro e lógico
Que por mais que doesse
Não mataria

Renata Netto

terça-feira, 16 de agosto de 2016

A minha casa está vazia,
As esquadrias fechadas,
As mobílias remendadas
E ainda assim o amor, habita...

Eu não me amo!
Não me nego a definição de praça...
Eu não mereço
Nada que me tragam de graça.

Eu não me amo!
Esqueço e afasto-me de quem sou...
Eu não aguento
Viver na ditadura dos velhos tempos...

Eu não me amo!
Mantenho em silêncio o que incomoda.
Eu não ingiro
Nada que me anule mais que eu mesma.

E enquanto gritava
De todas as formas...
Apenas o amor
Me sustentava.

E quando torturada
Com todo o desdém...
Apenas o amor
Me salvava.

Mas eu não me amo...
Se me amar é mais vazio
No meu berço cultural.

Mas eu não me amo...
Se me amar é um beiral
Protegendo as feridas,
Tão antigas...

Renata Netto




quinta-feira, 7 de julho de 2016

Ando

Andei procurando o passado...
As sensações, as emoções...
Aquela ingenuidade sagrada

Andei distorcendo o presente
As decisões, as preocupações
O que era dado e o meu fardo

Andei muito tempo sozinha
Culpando todos da minha dor
Amedrontando os meus sonhos

Andei demais pelas calçadas
Concretas, ásperas, frias e cinzas
Da mais dura, árdua realidade

Andei tentando levantar as pedras
Uma em cima da outra, e outras
Atirando pela janela, ou eu ou elas

Andei tentando negar o que sou
Mas o gelo queimou e molhou
O chão inteiro, a alma inteira

Andei em liberdade todos os rumos
Em plena vontade, coragem e guarra
Como se nada soubesse, nada fosse

Andei com o mundo sob os pés
E fiz dele um refúgio de memórias
Pesando um longo embate tocante

Andei mais que um mero instinto
O necessário para dosar o espírito
Da dor e alegria que é sobreviver


Renata Netto









Flutua

Flutua, passarinho que canta a voar no céu... 
Seu canto é um presságio da brisa boa que ainda vem... 
Te fazer vibrar em toda nota que o assobio do vento soprar... 
Te ensinar que cada galho diferente pode ser um bom lugar... 
Flutua e deixa o seu corpo sentir... 
Flutua e permaneça a cantar um novo dia... 
Flutua e perceba que qualquer hora é momento certo para acordar... 
Que qualquer momento é tempo que jamais vai voltar... 
Flutua, sem medo. Faz seu caminho devagar... 
Acredite na força que te faz flutuar... 
Suas asas serão os pilares da construção de um novo céu... 
Faz do teu canto o tempo certo da razão chegar...

Renata Netto

segunda-feira, 21 de março de 2016

O que há de ser

Nessa vida o mais bonito é o tempo
Que transforma qualquer coisa
Em um tipo de auxílio
Da própria existência

Mania humana essa é sentir-se sol
Que por onde se passe ou vá
Gera um tipo de anzol
Da própria espécie

Quem dirá que se far-se-á então
A luz guia pra gente vazia
Aquela mesma anciã
Que povoa magia

Quem será a lua esculpida em dó
Doentia, aquela pobre menina
Que isolada de tanta agonia
Agride a própria pele

O último sopro emanado do chão
Acorda a semente que germina
Ainda no ventre da manhã
Como se fosse o dia

Renata Netto