quinta-feira, 27 de março de 2014

O que faço?

Me vem seu rosto, o sorriso e o olhar...
Me vem o tato, a expressão, o gozo...
Artístico, cheio de nuances,
O que faço com esse capricho?
O que faço com esse vício?
Não dá para esquecer ou guardar...
Não dá para entender ou nem ligar...
Porque é intenso, gostoso, bom...
Porque é desejo, tesão, prazer...
O que faço de você?
O que faço por você?
O que faço?

Não sei mais explicar...
Não existe mais razão...
Não sei quem sou...
Não vi que era tarde!

E longe permaneço...
Longe estou...


Renata Netto.

Abstinência exata

Não queria mais sonhar,
Tinha medo de ir buscar,
Conformada com o que não há...

Não queria mais dançar,
Perdia a vontade de cantar,
Conformada com o presente, sem ar...

Dei um pulo em um abismo,
Guardei-me de outros mimos,
Conformei-me com o destino...

Dei um tiro no meu respeito,
Apaguei o que tinha por inteiro,
Conformei-me com o desleixo...

Eu ruía as colchas lentamente,
Deixando os retalhos espalhados,
Ouvia demais, mas não me indagava...

Refletir, pensar, parar, relaxar,
Um momento meu comigo mesma,
Uma confissão de soar timbres no espaço...

Então, invadiu de repente a chama:
Calma e silenciosa, rouca e macia.
Deu formato ao que latente era:
Adverso, arredio, feroz e sagaz...

E como abrir e fechar os olhos,
Natural foi a minha própria descoberta.
E como abrir e fechar os braços,
Proveniente foi a minha despedida.


Renata Netto.