domingo, 14 de dezembro de 2014

Presa



O veneno quando destilado
Gera sensações adversas
Um copo preenchido de vazio
Ausência de razão ou clareza,
Diante da emoção

Tem um gosto tão amargo,
Inalado, causa estrago,
Pior que comida estragada.
Desce devagar, dando nó
Diante da morbidez

Pior ainda é ter que olhar a língua
Deslizante de cobiça,
Na boca aberta, salivante
De avareza e inveja
Digerindo com os dentes
A presa

Seresquentado

Enquanto paira sobre mim o verbo...
A lucilante manifestação no ventre se reverte
Em arrepios consumidos em verso.
Ditado, proclamado, declamado à derme

O sopro que vem da janela abastece
O  ar que falta entre o espasmo enlouquece
Padece o êxtase em silêncio profundo, adormece
Doce ser requentado, guardado para quem o amanhece...


Renata Netto

Silêncio de rapina

Pousa em meu coração
A águia da decisão
Veloz e precisa
Voraz

Cala meu pensamento
A injúria da omissão
Vil e fraca
Fugaz

Renata Netto

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Profundeza Azul

Quando meus olhos chegaram ao mar,
Furaram as ondas, mergulharam para si
Na silenciosa profundeza colorida dos corais.


No fundo encontrou outros olhos a piscar,
Em tantas bolhas que subiam ao limiar do ar.
Seria um encontro ao seu estado natural, aliás.


Ao afundar cada vez mais, nada faria sentido
Diante do azul infinito, abrigo do meu corpo.
No avesso do que sou por fora, que aflora mais.


No azul puro e nítido dos teus olhos
Que podem me cegar cada dia mais.
E tenho medo de nada mais enxergar,
Além do que existe nestes olhos azuis.


Quando meus olhos fizeram festa no mar,
Minha matéria era agulha em velocidade,
Nas correntezas presas a derme, escamas.


Entre tuas rotas, na leveza suave do nadar
Floresciam neons das cores mais diversas,
Indicando setas para onde devia correr mais.


Ao ascender cada vez mais, tudo faria sentido
Diante da esfera infinita, memória do meu corpo.
Na vertente dos meus sonhos,que afloram mais.


No azul puro e nítido dos teus olhos
Que podem me cegar cada dia mais.
E tenho medo de nada mais enxergar,
Além do que existe nestes olhos azuis.


Sua força imprecisa nos dias de tormenta
Podem me arrancar tudo, naufragar-me
E regurgitar-me em plena areia fria, ao luar.


Posso dessecar a revelia do tempo azul
Ou cinza que se fará, após retornar
Ao meu estado natural, mas sem você.


Ao retroceder cada vez mais, a ideia de mar
Diante dos meus olhos castanhos claros,
Revesso dos teus, azuis, de promessas vãs.


No azul puro e nítido dos teus olhos
Que podem me cegar cada dia mais.
E tenho medo de nada mais enxergar,
Além do que existe nestes olhos azuis.


Renata Netto.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Segundo sangrio

Vem teu nome e me lança as cartas.
Incandescente, atinge mais um desejo.
Cativante, alcança vibrante, uma canção.
Corriqueiras ideias envoltas de segredos.

Teu nome espera minha boca aberta
A engolir teu suco e digerir teu desejo
A embrulhar teu corpo e arder febril,
E desfalecer em teus lábios vermelhos.


Renata Netto.

Nota-me

Ei, conte-me um segredo.
Forte e envolto de magia.
Fale-me das ideias e fatos.
Corriqueiros ou não, diga.

Ei, cante-me uma canção
Intensa e vibrante em lá.
Alcance graves e agudos.
Cativantes ou não, grita.

Ei, conte-me um desejo.
Vermelho e lilás, sujo.
Atinja-me com sonhos
Loucos, incandescentes.

Ei, o sangue ainda pulsa
Veloz e fervente na veia.
Machucam-me os beijos
Que teu nome, regurgita.

Renata Netto.

Trans Vestimentas

Era hora... Mas não existia o tempo,
Enquanto pousava o pensamento sobre um olhar.
Era lugar... Mas não existia espaço,
Enquanto ocupava em volume todo o pensamento.
Era festa... Mas não existia música,
Enquanto dançava o corpo sobre a guarda tua.

Era canto... Mas não existia acorde,
Enquanto tecia em dedos as melodias em sentido.
Era surto... Mas não existia condutor,
Enquanto a corrente envolvia a mente em segredo.
Era grito... Mas não existia uma fala,
Enquanto sussurrava no ouvido o batom vermelho.

Era momento... Mas longe da realidade,
Enquanto os sonhos encontravam um meio de selo.
Era vento... Mas soprava intangibilidade,
Enquanto a imaginação transformava cada intenção.
Era exato... Mas traduzido erroneamente,
Enquanto abrigava a razão um espaço na emoção.


Renata Netto.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Presença interna

Quando me vejo no escuro,
O vermelho dos teus lábios
Roubam meus segundos
Apagados.
E volto a ascender o fogo,
Desesperado e inimigo
Do meu próprio equilíbrio
Instável.

E é quando busco meu riso
Antigo, esquecido...
Quando danço escondido
Em volta do umbigo...
Tracejo o horizonte turvo,
Esperança de um rumo...
Quando encontro-me perdido
No meio do teu mundo!

Quando me sinto no vácuo,
O castanho dos teus olhos
Consomem-me os instintos
Aflitos.
E retrocedo ao primitivo,
Rude, talvez pragmático,
Do meu querer intuitivo,
Tangível.



Renata Netto.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Ontem, hoje e sempre!

Veja, no espelho líquido
Maleável e transparente
Da gota de água, o fruto.
É o que viemos a plantar,
O que semeamos para nós.
O que se perdeu.
O que se conquistou.

Veja, nos tantos fleches de luz
Coloridos e incandescentes
Do sol, a palavra que conduz.
É o que viveremos em prol,
Do que desejamos para nós.
O que se demolirá.
O que se construirá.

Veja, no lúdico dos sonhos
Intangíveis e contentes,
O possível de teus anseios.
É o que devemos realizar,
É o que acreditamos para nós.
O que se sonha.
O que se projeta.

Renata Netto.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O que tem de mais bonito

Nos braços morenos
Encarnados de amor,
Acalentei os desejos
Enfeitados de ardor.

Encontrei os sonhos
Perdidos em cor,
Onde o teu corpo
Era no papel, esboço.

Fiquei mudo e despido
De ideia e pensamento.
Todo silêncio era agito.
Todo agito era segundo.

Estranho o tal tempo...
Cala falas, segredos,
O que parece infinito.
Ao passar deixa tudo
Mais bonito.

Renata Netto.

O que pensas

Eu falo até o que não devo.
Para de vergonha, não poder falar
Mais.
Eu falo e falo mesmo, e tanto...
Mesmo sem saber o que avaliar,
Enfim...
Mas se tudo que eu disser, for
O que realmente sou, não vou prestar
Nada

E...
Nem um pouco de mim
Valeria um pacote de pão.
Nem o trocado do mendigo
Me ajudaria.
A ter mais noção
Da atenção
Que a disposição
Do silêncio

Falar muito foi a maneira
Mais rápida de te decepcionar
Mas,
Falava tanta besteira alheia,
Porque não sabia de fato o que falar.
Enfim...
Mas se tudo que não disse, for
O que realmente sou, vou te falar...
Tudo

E...
Só um tanto de mim
Valeria mais que painite
Que nem amolite encontrado
E me faria
Ser um amoleto
Guardado
Em teu peito
Distinto

Das coisas que penso
E não falo
Das coisas que falo
E não mostro
Das coisas que vivo
E guardo
Posso ser sorte ou revés
Posso ser dor ou amor
Posso ser semelhança
Ou oposto

Renata Netto

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Sofrervivendo

Sempre é triste a despedida, mesmo antes da partida.
O coração te obriga a chorar, a lembrar, a conviver...
Com toda a saudade do que está por vir e do que ficará
Por toda a vida
Sim, a memória é sempre viva, seja ela ruim ou boa.
Sobrevive em nós catando os sentimentos propícios
E com toda a ansiedade de um regaste sem sentido
De tudo o que já foi vivido...

E é assim que a terra se umedece, e dela brota as mais belas mudas.
Se transformam em raízes fortes, solidificadas, imperatrizes.
Transforma-se em dia esperançoso, aquele dia tão nublado e chuvoso...
E a fantasia dos sonhos nos submete a tão doce e feliz novela,
Que às vezes, é até bom contar história para o coração dormir...
Ah se tarde, hoje, fosse cedo, clarão do dia seriam meus olhos
A desfazer o traçado tortuoso que mal conduzi na estrada
Em tantos dias...

Ah, se o meu silêncio falasse, não restaria nenhuma alma sadia
Cairiam tempestades e os terremotos se fariam a qualquer hora,
A todo instante, do que teu não fosse meu...
Ah, se minha imaginação se retratasse em uma tela de cinema,
A platéia toda se contorceria na esquiva de captar todo o meu gesto
Minha postura deselegante no palco do meu mundo encantado
Ah se essa matéria se nutrisse de prece não morreria por mais 50 anos
Doloroso seria viver tanto por tudo que minha mente cala...

Repulsa, maltrata querendo ter o que não se pode ter.

Renata Netto.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Desritmo



Eu preciso sangrar até a noite acabar.
Amanhecer e não levantar.
Afogar-me no lençol com as mágoas.
Encharcar-me de pesar.
Preciso lembrar e relembrar de tudo,
Como assistir um filme
E acordar no mundo das outras pessoas.
Fantasiar nada mais que a pura verdade:
Que ninguém nos pertence.
Que é preciso saber a hora certa...
Quando livre voar,
Quando preso se libertar.
O meio termo só para os mornos!

Eu preciso deixar a ferida exposta.
Recuperar todo sangue perdido.
Amargar o doce que ficou
E transforma-lo apenas
Em marca d’água na mente.
Eu preciso chorar em rios e em mares.
Quando a dor apertar,
Jogar-me em queda livre em lugares.
Cegando-me do ontem.
Despertar para o mundo de outras pessoas.
Realizar tudo mais que a pura vontade.
Que ninguém é feliz sozinho,
Que é preciso saber a hora certa:
Quando livre voar,
Quando preso se libertar.
O meio termo só para os mornos!

É preciso conter-me as circunstâncias
E propor-me novas vias.
É preciso driblar os instintos carnais,
Assim como as ofertas fáceis.
É preciso fazer-me a fortaleza que não sou
Para me desmanchar por inteiro.
E renascer consolidada.
E mais que antes,
A sabedoria não pode faltar-me.
Enxergar-me como protagonista no mundo.
Concretizar os sonhos guardados em pausa.
Que ninguém vive sem sonhos.
Que é preciso saber a hora certa:
Quando livre voar,
Quando preso se libertar.
O meio termo só para os mornos!

Renata Netto.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Sentido roto



Deixe-me voar até o seu corpo
Queimar em uma manhã de domingo
Como uma flor a desabrochar
Desde a madrugada até o amanhecer
Servindo-te lentamente
Com suco natural
E leite quente

Tome-me aos poucos
E sinta seus olhos
Nos meus
Veja-me como vejo
Quero tudo
E mais um pouco

Deixe-me tocar sua insanidade
Enlouquecer em uma noite qualquer
Como um surto de eletricidade
Tensor, resistências sem disjuntores.
Percorrendo-me intensamente
Pensamento latente
E curto-circuito

Cale-me aos beijos
Abrace meus lábios
Molhados
Escorre-me viril
Atingindo-me
Aos poucos


Renata Netto.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Vigorar

Colorido sonho
Afaga-me em tua brisa doce
Esconde-me da chama
Que incendeia meus dias
E essas noites

Nuvem de algodão
Ilude-me em seu mudar suave
Transporta-me para perto
Da tua tranquilidade
Nesses segundos

Sol esplendoroso
Aquece-me com teus raios
Fazendo meu corpo
Luzir como fonte
Em grandeza

Terra tão amada
Me faz em teu ventre crescer
Como semente de feijão
Pra em qualquer lugar
Me desenvolver

Fruto maduro
Da árvore pro colo
Sussurra pro mundo
A alegria do gozo

Que é viver...


Renata Netto.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Des une tÊ!

Eu sinto que vou voar até o sol
Sinto que ele irá me queimar.
Mas eu quero arder...
Eu quero arder
Até o final

Sorrir junto do seu sorriso
Ter seu cheiro envolto no quarto
Na roupa, lençol, na pele
Teu suor em mim

Preciso te falar que tento esquecer,
Mas sua essência me trás à lona
Toda vez que procuro fugir.
E eu me rendo...
Me entrego
A você

Eu sinto que vou visitar a noite.
Eu sinto, ela vai me corromper.
Eu quero me perder.
Eu quero perder
Até o final

Abrigar o teu membro
E juntos gotejarmos delírios
Puros de desejos, prazer.
Teu e o meu gozo enfim...


Renata Netto.

sábado, 24 de maio de 2014

À bola.



Quando eu era uma bola
E quicava no chão,
Batia em tantos lugares.
Não havia caixão
Que me guardasse,
Escondesse-me.
Erro ou acerto, exposto.
Terra ou gramado,
Lama ou barro batido
Ao nível do pescoço,
Subia-me a vontade
De fazer muitos gols.
Quando eu era uma bola
E chutavam-me duro,
Mais firme seguia no alvo.
E não existia inverno
Que me intimidasse,
Introvertesse-me.
À revelia ou não, encanto.
No pé, perna, ombro,
Tronco, cabeça e mão.
Rugindo tantas vozes
A cada toque, passe,
Continuava em destaque. 

Renata Netto.