quinta-feira, 27 de março de 2014

Abstinência exata

Não queria mais sonhar,
Tinha medo de ir buscar,
Conformada com o que não há...

Não queria mais dançar,
Perdia a vontade de cantar,
Conformada com o presente, sem ar...

Dei um pulo em um abismo,
Guardei-me de outros mimos,
Conformei-me com o destino...

Dei um tiro no meu respeito,
Apaguei o que tinha por inteiro,
Conformei-me com o desleixo...

Eu ruía as colchas lentamente,
Deixando os retalhos espalhados,
Ouvia demais, mas não me indagava...

Refletir, pensar, parar, relaxar,
Um momento meu comigo mesma,
Uma confissão de soar timbres no espaço...

Então, invadiu de repente a chama:
Calma e silenciosa, rouca e macia.
Deu formato ao que latente era:
Adverso, arredio, feroz e sagaz...

E como abrir e fechar os olhos,
Natural foi a minha própria descoberta.
E como abrir e fechar os braços,
Proveniente foi a minha despedida.


Renata Netto.

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